quinta-feira, 15 de novembro de 2018










devastação
por toda parte
devastação e servidão
saudada pelas carcaças
outrora também chamadas
.................homem
que de bom grado
deitam o pescoço
sobre o cepo
à espera o cesto e o carrasco
o amontoado de corpos secos
os órfãos – a fome
e seu olhar de admiração lunática
devastação
por toda parte
devastação maior
a interior
e os pés já não comportam
o peso dos humilhados
que têm seu valor
medido em arrobas
e os olhos áridos
acostumam-se à vida
diante da pequena tela
janela do real que nos engole
devastação
por toda parte
devastação e impotência
numa terra que produz
homens reduzidos
orgulhosos de sua dimensão
que mutilam o que circula por suas mãos
tornando menor
fazendo um sítio à sua medida
de gente desnutrida
diante de frondosas árvores
inalcançáveis – por isso
a devastação

LUIZ CARLOS QUIRINO

domingo, 4 de novembro de 2018

10°




sopra do passado um vento
enlouquecendo os homens
pesado de enxofre e sofrimento
a temperatura cai 10°
avançamos mais um degrau
e agora quase tocamos
com nossa cabeça a claraboia
de onde talvez seja possível
vislumbrar uma fuga

hoje

nunca estivemos tão bem nutridos
tão bem vestidos
e tão pobres
o totalitarismo da felicidade
fez os homens terem sonhos suicidas
transformou as crianças em pequenos tiranos
a temperatura cai mais 10°
o vento agora é gelado
os irmãos já não se reconhecem
e planejam um holocausto secreto
o próximo carnaval
será entre escombros
de desfile sobre cadáveres

se o profeta não tem nada a dizer
a histeria das massas substitui o vazio
movidas por promessas não feitas
esperando a guerra santa
a geada é o passado que se impõe
como o único tempo
restante
as viúvas vibram
com a volta à vida
dos homens infames
do tempo 10º abaixo.

LUIZ CARLOS QUIRINO
iMAGEM: Bill Viola