quinta-feira, 15 de agosto de 2024

A crise dos sonhos

 

Em 1992 um fato curioso estampou as manchetes de alguns jornais: os moradores da cidade de Brejinho de Nazaré, no Tocantins, relatavam não estarem mais sonhando. Tudo começou quando uma professora pediu para que os alunos registrassem seus sonhos durantes três dias e, ao final do período, escrevessem uma redação. No dia combinado, para sua surpresa, nenhum deles havia conseguido completar a tarefa. Pior do que isso, eles não tinham nem começado. A desculpa parecia combinada, uma vez que todos alegavam não ter nem começado porque simplesmente não sonharam. Nas semanas seguintes, a própria professora passou a prestar mais atenção às suas noites de sono e, para sua surpresa, também não estava sonhando.

Não demorou muito para a história se espalhar e todos os moradores se darem conta de que, por algum motivo, não conseguiam sonhar. A imprensa local fez longas reportagens onde desenvolvia algumas hipóteses. Uma delas, por exemplo, questionava se a fuga dos sonhos não estaria relacionada a um possível trauma coletivo pelo qual os moradores haviam passado. Isto porque, alguns meses antes, os pedaços de um satélite de grande porte cortaram os céus justamente numa noite em que todos estavam reunidos na praça da cidade assistindo ao filme Guerra dos mundos. Houve muita correria; alguns, no entanto, ficaram paralisados, outros se ajoelharam e começaram a rezar, pois pensavam estar diante de uma invasão alienígena real. Passado o susto, seguiram suas vidas normalmente, e a história acabou se tornando parte do folclore local.

A crise dos sonhos ganhou o imaginário nacional, por mais um tempo ainda, após uma equipe do fantástico chegar à cidade para investigar o assunto. Junto com ela o Padre Quevedo, famoso por desvendar mistérios que desafiavam a lógica. A coisa toda ficou um pouco mais esquisita quando eles não puderam terminar a reportagem que haviam apenas começado, porque, um dia após sua chegada, os sonhos voltaram. Até hoje não se sabe muito bem o que levou os mais de quatro mil moradores de Brejinho de Nazaré a pararem de sonhar durante alguns meses.

   

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Travel agency for ordinary places

 

Soube por intermédio de um amigo da existência de uma agência de viagens chamada Travel agency for ordinary places. Não consegui confirmar as informações, mas ele me disse que ela estaria situada nos Estados Unidos, mais especificamente no estado da Flórida. Talvez eu não tenha encontrado nada a respeito na internet porque, segundo ele, trata-se de uma agência de viagens destinada aos multimilionários. Ou seja, nem perdem tempo divulgando seu trabalho para pessoas como tu ou como eu. O negócio é (supostamente) o seguinte: proporcionar aos ricaços a experiência cotidiana das pessoas comuns por meio de uma simulação muito realista e, diga-se de passagem, controlada. Os caras viajam para lugares, geralmente fora dos Estados Unidos, onde possam desfrutar anonimamente funções monótonas e subalternas durante um mês inteiro. Pode ser numa fábrica na Ásia ou numa central de telemarketing na América Latina, por exemplo. Fiquei sabendo da história de um certo Andrew Merritt, jovem milionário do setor de tecnologia, que passou dezessete dias trabalhando como zelador num edifício na cidade de Pretória na África do Sul. Havia contratado vinte e cinco dias, mas quando achou que já era o suficiente, que já havia descansado de sua vida de responsabilidades e de estresse, ligou para a agência e, em meia hora, um carro estava o esperando na porta do edifício.