terça-feira, 10 de junho de 2025

 

como é mesmo o nome

daquele lugar que não visitei?

aquele onde sem sair da cama

fiquei dias intoxicado com  palavras

que  não entendia

 

eles tinham um gesto

tocando a ponta dos dedos

para expressar felicidade

cremavam os mortos

e com as cinzas

enfeitavam a entrada das casas

diziam que os gatos eram

muito parecidos com um engano

 

que a fumaça era a imaginação das coisas

e que as nuvens eram os sonhos não realizados

 

lá, me deram um nome impronunciável

que significava luz numa tarde de preguiça

 

nunca haviam pensado em forma de alfabeto

por isso desenhavam as tristezas na areia da praia

para serem apagadas

 

e cada vez que o sol vai embora

ainda sinto o sopro do tempo que passei

entre eles

 

sexta-feira, 6 de junho de 2025

 

em looping, ensaio um início

daí imagino como seria voltar ao terreiro

lembro de coisas transparentes –

da poeira

da guanxuma

e da mão da mãe

apontando pra tudo o que faltou ser varrido

em looping, há terra embaixo das unhas

porque cavouco até chegar à partida

à rachadura

às folhas do chorão

e à roseira da família

em looping, assopro o pó

de cada coisa esquecida no chão

 

 

 

 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

os piores horrores acontecem à luz do dia

sob os olhares da plateia entediada –

guardas de trânsito

distração

buzina

sabiás comem pitangas


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

 

escrever é uma forma de desaparecimento

as palavras enfileiradas são os rastros de um fantasma

a assombração é uma forma de caligrafia

 

– muda

 

os fantasmas se enfileiram até sair da página   

o desaparecimento é uma suspensão da forma

quando a fila alcança seu destino

 

– muda

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

 

calo

 

logo

 

existo

 

no espaço entre

a imagem e o pensamento

 

às vezes o dia não passa

quando vejo já acabou –

não tenho paciência para esperar tão pouco

 

há livros que li em alguns dias, outros demorei anos

levanto da cadeira a cada 120 minutos

o caracol corre a 0,05 quilômetros por hora

o bicho-preguiça, a 7 centímetros por segundo

o planeta terra gira a 1670 quilômetros por hora

a casa onde moro se move 0,02 milímetros a cada década

 

alguns de meus sonhos me acompanham por vários dias

há dias que acabam sem deixar nada