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sexta-feira, 27 de dezembro de 2019





Àqueles que não tem nada
e abraçam um tempo parado
de espera e esperança
céticos contra as nuvens de tempestade
e as profecias que às vezes se confirmam
em ocupações subalternas
duma vida vista de debaixo pra cima
espécie de metafísica dos objetos
que não se pode ter

e o tempo pra quem espera algo
pra quem tocou o fundo
pra quem tem seu corpo consumido
de variadas formas
enquanto as feras dilaceram
a medida dos homens e mulheres
é feita pelos sinais
que exteriorizam seu valor
como a velocidade da queda
o alinhamento dos dentes
a brancura das unhas
uma lista de 87 itens
todos reluzentes e melancólicos

por isso esta saudade difusa
daquilo que nunca viveremos
e o andar arrastado
que retrocede sobre os dedos
grossos que não cabem nos bolsos
sem fundo
de dentro do buraco sem tempo
são como garras inúteis
daqui a lua parece tão clara
que até tenho medo
que seja impossível  

luiz quirino