domingo, 27 de dezembro de 2020

 

agora o fantasma ronda
o mensageiro e os corpos
deixaram de ser contados
 
existe uma peste lá fora
mesmo que a festa pareça
não ter fim e o ar se esfarele  
 
atrás dos olhos
a agitação das imagens
em vórtice – a urgência
cada vez mais insuportável
 
no meio o tremor do corpo
das despedidas e cupins
roendo os pés
embaixo do chão
 
verifico a voracidade
do som da madeira
se fragmentando
 
no tempo intangível
da espera – colho
serragem sanguínea
 
e o deslocamento vira
uma folha do caderno
em que as pautas
caem –
 
nunca teremos paz porque
a mensagem não será
concluída  


luiz carlos quirino 
 

sábado, 26 de dezembro de 2020

 

Fora
das estrofes
– existe urgência
menos fuga do que fantasmagoria
exausta dos próprios gestos
 
– princípio e fim
do rosto
 
se me alieno
da transposição
feita de tempo e espaço
e precipito meu
nascimento
 
– espera do que se distancia
sem ter se aproximado –
 
a seguir
rearranjo as sílabas
de meu nome e
componho um
vaticínio
 
proliferação e aposta
sibilação e enxame
 
tudo posso como aquilo que
nasce e morre continuamente
 
[naquele tempo em que
encerávamos o assoalho
de tábuas díspares]
 
por isso inventei uma biografia
de frestas nas tábuas e brilho
de tudo o que não chega


luiz carlos quirino

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

 

máquina – cega dentro
do relâmpago
 
estática atrás das engrenagens
que fabricam o reflexo
 
– e espessura da anorexia
entre o que não reluz e
nem têm força para medir
a distância entre si e o céu
de seu delírio
 
movo os dentes da polia
e desloco alguns gramas de respiração
espremendo o cansaço
 
das plantas que brotam nos
carros quando deságuam no mar
sob o efeito da boca
 
movo os dentes cravados na carne
para sentir o gosto do sal
e da sedimentação
 
do que evapora
apesar da peso


luiz carlos quirino