segunda-feira, 28 de junho de 2021

 

fantasmas –
talhados na parede
por uma lâmpada de
incandescência fraca
– gesticulam a fala
do que só existe
através da
 
transparência
 
[emito mensagens equívocas
porque nasci com mãos tortas
no mesmo dia daquele santo
vendido e feito escravo]
 
violência da luz cega
como toda agressão
e santidade em seu
resplendor letal  

luiz carlos quirino 
 

sexta-feira, 11 de junho de 2021

 

a poeira se demora sobre os objetos em silêncio porque o tempo sustenta nas mãos uma duração maior que sua força – a pele antiga se descama e enruga deixando rastros de cansaço e lentidão à mostra – hoje minha transparência exibiu rachaduras – e a luz me atravessou com a mesma facilidade que uma faca extrai as tripas de um peixe – a poeira às vezes levita pela estrada de sol que passa pela fresta da janela e foge – foge como se eu pudesse revelar seu segredo     

luiz carlos quirino 

sábado, 5 de junho de 2021

 

inventamos um jogo
em que tentávamos
não ser destruídos pelo real
lembro de tua paciência
ao me ensinar que
o niilismo do sobrevivente
é um tipo refinado
               de pragmatismo
 
e hoje o uso para remover
os estilhaços do tempo
cravados na minha carne
me impedindo de seguir ou parar
de enfrentar a violência no asfalto
e a pele áspera dos lagartos
extintos sob o betume
 
ela prometeu sua melhor sombra
mas deixou os canteiros
adubados de carvão
os mesmos onde um dia minhas sementes
germinaram pequenas incandescências
roubadas pelos vagalumes
                   noite após noite
até a última eletricidade


luiz carlos quirino