quarta-feira, 29 de maio de 2019





Alvorada –
manhã
que
renova
a queda –  
onde a intraduzível
loucura se adensa
rasurando os homens
fazendo deles apenas índices
de seu próprio desespero
máquinas dóceis
oxidadas pelo desânimo:
a destruição principiará
pela sofisticada tecnologia do corpo
e será completa
se no início havia o verbo – não o uivo
a proliferação daquele
nos entregou um mundo estéril
em que a raiz da fala se contorce  
à procura d’água – ou minério
o cão chacoalha o azul do pelo
e pelo chão se espalham as pulgas
à procura da raiz do sangue
onde a luz se faz ausente
onde  tudo coagula
onde as pulgas são os únicos seres
dos quais os homens são dignos
ou os piolhos
até que os olhos se acostumem
ao silêncio da visão
e os pulmões, ao vácuo
e as raízes dos homens se contorçam
destroçando-se sob a terra.


luiz carlos quirino