domingo, 29 de agosto de 2021

 

 

isso deveria ser fácil
mas o acesso ao sussurro
da luz que move o ínfimo
dispersa os átomos
que dançam em meus dedos
 
tudo é translúcido
quando olhado contra
o limite


luiz carlos quirino

 

sábado, 28 de agosto de 2021

 

eu sou o inimigo
acaso tornado pólvora
de palavras banais
brilho efêmero
eu sou o inimigo
consumindo a si mesmo
no estalo do agora
gota de fogo
eu sou o inimigo
que pinga da ave
dita por um mecanismo
de iniquidade
eu sou o inimigo
eu sou o inimigo

luiz carlos quirino 
 

domingo, 22 de agosto de 2021

 

espera que sustenta
a gravitação do Impermanente
exigindo um pedaço de mundo
 
cursa o corpo  
[de costa a costa]
em visita ao herói superado
riscando planos maturados
como bebida amarga
 
androide delirante por ruas de faísca
– outra causa da coisa e da ferrugem
 
poeta-espectro
mais ruído que diálogo
– corpo encontrado  
no fundo do rio
com pedras
nos bolsos


luiz carlos quirino 

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

 
luz de metal refletida na retina
insisto na vida
como a mariposa investe
contra a lâmpada
até chamuscar as asas
 
vejo o ruído que emite o azul
enquanto segura o céu –
delicadeza que sustenta o mundo
e suas colisões
 
por um segundo pensei
ter conseguido distinguir
a imagem formada por
pixels solitários –
parecia meu próprio rosto
crispado num sorriso
ou uma máquina triturando
o horizonte
movida pela paranoia
                 da alegria
 
a árvore sacode seus galhos
e nos enxota de sua sombra
suspeito que somos intrusos

luiz carlos quirino 


 

domingo, 1 de agosto de 2021

 

porque não fui alfabetizado
na deslíngua do que vive e morre
segundo estações tangíveis
chegada a ocasião
de assumir meu fracasso
a vez do mundo falar
de construir um instrumento
desconjuntado e hesitante
a vez do que se agita
                    antes da fala
ruído que não alcanço


luiz carlos quirino