segunda-feira, 24 de maio de 2021

 

fecho os olhos e imagino
o traçado de uma cidade
feita de ruas ignoradas
por deus
 
escolho sempre
os pontos mais altos
a salvo das enchentes
 
os lugares mais movimentados
           onde a vida urra
exuberante como um animal
 
e já não ocupo espaço maior
do que o de um tremor
 
abro os olhos –
os edifícios desabam

luiz carlos quirino 

sábado, 22 de maio de 2021

 

variações do que não existe
porque ainda lhe falta um mundo
vidas alheias a mim
que fui obrigado a usar
para tentar não
           desaparecer
completamente
 
preciso de alguém que
pronuncie meu nome bem alto
bem alto – como se falasse
de algo real


luiz carlos quirino 

sábado, 15 de maio de 2021

 

numa primeira olhada
– assim meio distraída
talvez nada escape
            da interminável
máquina do real
 
além de certo turvamento
recheado de fantasmas e
pão-nosso-de-cada-dia
 
                      engrenagens
do visível e do invisível
movendo as aparições
e a curva
                   das estatísticas
suas predições
e equívocos
 
com todas as minhas forças
tento existir – o que às vezes
pode soar meio ridículo


luiz carlos quirino