domingo, 28 de abril de 2019






Que máquina enorme a do silêncio
de quem trabalha de costas curvadas
e mantém os pés no chão movediço
de quem articula palavras petrificadas
e conhece o peso de todas as coisas
de quem tem seu corpo explorado
e resignadamente se cala

no ar apenas um rumor de existência
uma ferida aberta pelos acontecimentos
mesmo que na superfície nada aconteça
o interior agita-se
antecedendo o impensável
dos que não encontram paragem
para a sua fadiga
exilados no medo e na fuga
como fantasmas em meio ao pó

o dia e a noite e a queda inevitável
de quase todos os animais domesticados
prenuncia-se
dóceis para a morte
animais sonhadores
que sacrificam a vida
em nome de uma mutilação
pelas inevitáveis armadilhas
seu grito é mudo
abafado pelos urros das manadas
que se precipitam ao início


luiz carlos quirino

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