Três fantasmas vagam por entre os escombros, três feixes de luz como uma espécie de eco que reverbera nas coisas que possuem volume ou que pelo menos parecem possuir. O sol lá no alto transforma tudo em miragem e engana a visão. Por isso a diferença entre o existente e o inexistente é mínima, reside no deixar-se tocar.
Encobertos por essa fantasmagoria, três fantasmas cavam na areia resplandecente ao meio dia enquanto na única construção habitada um homem inventado sonha com o destino da humanidade remanescente. Ele não suspeita das miragens nem dos fantasmas que acompanham do lado de fora seu sono.
FANTASMA 1
Dia após dia tentamos desenterrar cidades inteiras abandonadas pelos fazedores de mundos. E até conseguimos localizar suas camas, porém estão sempre vazias.
FANTASMA 2
Nunca perdemos a esperança de que tenha restado alguma coisa intacta após as tempestades sucessivas.
FANTASMA 3
Tampouco descobrimos de que imaginação saiu o homem que sonha o destino de todos os outros.
FANTASMA 2
Talvez devêssemos desistir. Porque cavar na matéria onírica faz com que despareçamos um pouco mais a cada vez. Desde que começamos, o dia tem ficado mais longo. Quase já não escurece.
Os três fantasmas largam suas pás feitas de noite e contemplam o buraco por eles aberto voltar a se fechar. Sua luz é insuportável.