domingo, 19 de setembro de 2021

 
e a mãe
que cuidou de todos
agora está murcha
 
psiu
 
estico no espelho
o coro de tamborim
inútil da cara
 
e a mãe
torce os parafusos da casa
chamando fantasmas
pelo nome
            de batismo
 
a sombra da mãe
espiral  
ilumina-se enfim
de cansaço pelos furos
nos remendos 

luiz carlos quirino 

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

 

se eu pudesse dar um passo
por mínimo que fosse
por torto que saísse
a violência ficaria
           no futuro
 
numa massa agitadiça
como os galhos cortando
o azul do céu seco
 
o rosto todo contração
seria a superfície
do poema impossível

luiz carlos quirino 

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

 
sabia-se que
chegaria ao fim – um dia
a hibernação do fuzis
então eles acordaram – fumegantes
farejando o medo dentro
das casas sem reboco
das escolas precárias
das fábricas insalubres
das crianças desnutridas
das trabalhadoras cansadas
– seus pentes abarrotados
prontos para o almoço
feito caninos de pólvora –
e os primeiros a serem abatidos
serão os que [por falta de memória]
se esqueceram de sua frágil
condição de presa e deixaram
sua dentição num copo
ao lado da cama...
os fanáticos clamaram por sua volta
num sádico saudosismo das cruzadas
dos mendigos
dos empalados
da repressão de-mo-crá-ti-ca
do arrocho salarial
do Big Brother
os cães ainda nem encontraram
todos os ossos – nem as mães
choraram todos os filhos
e eles já estão
batendo à nossa porta
fazendo coro com
as botas e as fardas
soltando raiva pelas narinas incandescentes
até atravessarem nossos crânios
e espalharem incandescência
pela noite afora
e saciados voltarem
às suas cavernas

luiz carlos quirino