sábado, 30 de abril de 2022

 
nas tábuas em formato de calma
rugas emprestam forma
à prata ainda crua
 
prego de prata
golpeado por um martelo de
ruga
 
na prata calma a forma nua
enruga o martelo cru
de ferrugem
 
prego de prata
golpeado por um martelo de
calma
 
com o aço dos dentes
mordo a prata em formato de ruga
e empresto minha língua
 
prego de prata
golpeado por um martelo de
dentes

 

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 27 de abril de 2022

 

tu
 
trança uma mão dentro da outra
e cai devagar
pronunciando cada sílaba
de clareza atordoante
no fundo dos olhos
 
os campos elísios
sussurram aquele nome
com que fui inflamado
quando ainda se acreditava
em coisas como o ardor
 
tu
 
anda sobre a minha carne
e descansa aonde não pude chegar
já é tarde para revolver a terra
em busca do magma 
planta o sal que cuspi
e descansa

sábado, 16 de abril de 2022

 

dos olhos cuspidos às raízes
sem murmúrio ou moral  
ramos e hálito rasgam a terra
 
crianças cavam com as próteses dos dentes
mastigando as pedras até perder a inocência
aprendendo o idioma do chão
e a sonhar como os cegos
 
a pilhagem foi interrompida nos berços
nada de pólvora sob a língua nem açúcar
nem mesmo permissão para explorar
o subsolo da Pérsia
 
mesmo que nos pomares as peras apodreçam
por causa dos dentes de leite
e deficiência de cálcio
 
nos olhos persas queima pólvora
e próteses são sonhadas sem permissão
e olhos germinam no lugar das peras

sábado, 2 de abril de 2022

um passo em qualquer direção
e já não estou mais preso aqui
neste aquário
 
os primeiros raios de sol
se transformam em nimbo
através do limo seco
 
levanto entorno do espectro 
holofotes e marretas noturnos  
 
amparo a frágil dicção
e na mão ficou o peso assim
necessário
 
aos reiterados anzóis
perfurando a tinta
das marés demasiado cedo
 
envolto em gordura e feltro
o coiote abre clareiras no uivo
 
pela última vez
outra vez