quinta-feira, 12 de setembro de 2019

língua morta









Um filamento de ar
morno atravessa o tempo
nos varais da casa
das lembranças
(nem chega a mover
as fronhas estendidas)
sopra a monotonia
necessária ao poema
e à fermentação dos dias
a alegria dobrada numa gaveta
aguarda as tardes solares
por agora – apenas lama
silvos continuados da
memória comprimida
entre os sulcos da terra
arada pelo caminhar
obsolescente dos dentes gastos
do olhar que se distancia
da vida em suspensão e
                      enterra-se
no filete de sangue da língua morta
usada mais para calar do que dizer
língua não filológica
língua-apagamento  

luiz carlos quirino