quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

 

escrever é uma forma de desaparecimento

as palavras enfileiradas são os rastros de um fantasma

a assombração é uma forma de caligrafia

 

– muda

 

os fantasmas se enfileiram até sair da página   

o desaparecimento é uma suspensão da forma

quando a fila alcança seu destino

 

– muda

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

 

calo

 

logo

 

existo

 

no espaço entre

a imagem e o pensamento

 

às vezes o dia não passa

quando vejo já acabou –

não tenho paciência para esperar tão pouco

 

há livros que li em alguns dias, outros demorei anos

levanto da cadeira a cada 120 minutos

o caracol corre a 0,05 quilômetros por hora

o bicho-preguiça, a 7 centímetros por segundo

o planeta terra gira a 1670 quilômetros por hora

a casa onde moro se move 0,02 milímetros a cada década

 

alguns de meus sonhos me acompanham por vários dias

há dias que acabam sem deixar nada  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

 

ler bem devagar cada palavra

sustentando sua vibração sobre a cabeça

até multiplicar os fantasmas

e conseguir ver o próprio rosto

no ruído

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

quase transparente

a sombra briga para se afastar dos passos

quase sonora

cada palavra abre um caminho diferente

e desaparece como forma de exílio

 

talvez nunca tenhamos existido

e a espera fosse apenas asfalto ao meio-dia

e minha visita, o instante

de um corpo sutil

 

quase possível

infinito numa caixa de fósforos

quase verdadeiro

pólvora antes da faísca

 

luz do sorriso que zumbe no escuro