domingo, 22 de julho de 2018




Agora
que a única alegria possível
apresenta-se como desânimo incurável
pintamos o rosto com cores berrantes
por baixo
apenas a degradante
pele silenciosa
a cidade são só esquinas
à espera de que o corpo inercial
cruze suas ruas sem nome
até o logradouro total
lugar aonde nunca chegaremos
escondemos os olhos e usamos
as mãos de forma degradante
por questão de sobrevivência
estamos sempre
um pouco mais mortos ao amanhecer
à noite já sacrificamos quase tudo
então vestimos nossa máscara funerária
e esperamos novamente o recomeço
um mergulho no abismo do cotidiano
de palavras insuficientes
de trabalho produtivo e alienante
de casas tomadas por objetos inúteis
que trocamos por nosso tempo
tempo de vida
                            irrecuperável
e fingimos acreditar no futuro
enquanto a vida produz sua morte
– o trabalho produz sua pobreza.


Luiz Carlos Quirino

Nenhum comentário:

Postar um comentário