sábado, 13 de abril de 2019








Uma gramática que
raspasse o corpo
– na ambição de voltar
ao idioma de todas as coisas –
uma espécie de convulsão
atravessada por fluxos
e velocidades desiguais  
como um animal que morre
ou devora sua presa
realizando sua natureza
rasurando em si a inscrição humana
e suas diferentes gírias
caligrafia corporal
transformando-se em ideograma

ela irá correr até que as pernas
se transformem em reticências
e o dia torne-se calado
à espera da saciedade
mas um corpo útil é insuporta-
velmente triste
[a vida numa fábrica]
até o rompimento do liame fundamental

ela irá riscar a tábua com as unhas
e amolar as unhas na pedra
perder a cabeça
entre as árvores que tombam
existência dura
como a de todos os homens
dos que vieram antes e dos que virão
silenciosos pelo horror
da impossibilidade de escolha
ou desistência
arrastados por signos brutais
de uma língua arbitrária
limitada às dimensões do corpo
quase sem forças em sua anemia
de dizer o corpo do desejo
dizê-lo sem destruir a si mesmo
ou o outro
dizê-lo como aquele que se lança
para a morte
sem poder sê-lo
[um corpo – um espanto]
a noite é um estado utópico
o corpo, uma invenção
destinada ao apagamento


luiz carlos quirino


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