quarta-feira, 1 de janeiro de 2020



Quem não conhece aquela raça
a dos que definham aos olhos de todos
enquanto arrastam a indignidade
que ilustra certa propriedade do “real”
           – certa resistência –
impossibilidade de sobrevivência
fabular ou mesmo lírica
a não ser a golpes de picareta
                                e mãos calosas
[meus irmãos morreram tão jovens
já conhecendo o equívoco e
os sobreviventes curvados]
estamos dispersos
enfraquecidos pelas miragens
tão objetivas que nos atordoam
nos impelem a nos envenenarmos
                       gradativamente
tentando aplacar a tristeza
somos a raça que se dissolve
enquanto espera
o que nos salve ou escravize
enquanto se reproduz
não escreverão nossa história
nem traçarão nossa genealogia
demasiado vexatória
circulamos entre a multidão
como fantasmas concretos
embora translúcidos
e deixamos perplexos os céticos
e os entusiastas do progresso
e seu desprezo disfarçado
nos contamina ainda
somos a raça que definha
aos olhos dos saudáveis
certa propriedade do real
que ameaça sua sobrevivência
bruma que se dissipa
levando consigo
toda a paisagem

 luiz quirino

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