sábado, 21 de dezembro de 2019

ferruginoso




Como respiração encerrada
num envelope todo inflado
pequena apneia dos objetos
distribuídos meticulosamente
pelo mundo – mudos e
carregados de violência
como se quisessem fugir
à procura de alguma garantia
contra a rarefação
e a vacuidade produzida entre os corpos
que se precipitam
uns contra os outros
maquinalmente amorosos
parcialmente vivos
menos brilhantes do que ferruginosos
do que os olhos espirituais e reflexivos
e alguns dentes perolados
arrastando passos trágicos
como se o asfalto os fizesse mais sorridentes
e cogitassem uma respiração deveras ofegante
e se pudéssemos ler o futuro no voo
das aves marinhas?
em meio ao sorriso ou à respiração
plagiando nossos antepassados
maus plagiadores do tecido
que morre na fila do caixa
à espera do troco – embora
sentindo algum frescor nas calúnias
que trazem na bolsa
mentimos igualmente quando
escrevemos nosso nome
sem o peso da culpa
já que a era dos grandes homens
revelou-se mera alucinação
agora tudo parece mais vivo
tão claro que nos impele à crueldade
certa lucidez de insolação
torna melancólicos nossos
movimentos cadenciados e geométricos
abrangendo um limitado raio
talvez menor do que o
de um condenado
uma geometria que se expande
como um tumor fractal
– a respiração artificial que
produz as ervas mais felizes
e abundantes em sabedoria
anônimas e silenciosas


luiz quirino

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