sábado, 1 de fevereiro de 2020


Se eu perseguisse uma meta
naufragaria meus dias atrás
                                       de uma máquina
e seria considerado um cidadão exemplar
distribuiria gentilezas fugazes
e faria mandinga contra o mau-olhado

mesmo ninguém invejando o homem
que enfileira palavras numa folha
e constrói inúteis habitações onde
ninguém deseja morar

se eu fosse um grande lobo
devoraria o pastor que
conduz sua ovelhas ao abismo
e satisfaz seu sadismo através
do balido amedrontado dos
que despencam

por isso ando só pela terra
pilotando a bicicleta roubada de Jarry
e afundando no caudaloso absinto
dos livros
e seus córregos de Babel
entre cogito e delírio

eu sou um náufrago no cotidiano
e nado oceano adentro para
onde os animais catastróficos
enfim descansam
longe dos cargueiros da morte
e cantos de estrogênio

e são autotrepanações como palavras
distribuídas ao corpo docente do caos
e aos cães raivosos da província
portadores de sonhos avaros
cunilíngua como política de Estado

luiz carlos quirino

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