sexta-feira, 20 de março de 2020


Todo o espaço aberto escapa
das janelas escancaradas
de forma absorta aqui dentro
contamos os minutos
entremeados na manhã e na insônia
tanto que o concreto transforma-se
em alucinação se levitamos
sem estarmos sonhando

desde que a vida mesma
encontra-se suspensa
agarro-me à minha fração
a despeito do remédio ineficaz
borrando o horizonte –
até me distraio sem culpa

já as ruínas continuarão no chão
no mesmo ponto em que ficamos cegos
pela última vez

a boca colada à terra
comendo o caminho fechado atrás
depois de ontem até as fronteiras lacradas

da natividade ociosa da pele
onde esqueço meu corpo
onde desenhei nossa singularidade
no espaço aberto pelo temor
ou no ritmo que se dispersa
de meu lápis que levita
sem estar sonhando ou acordado

tempo espúrio de espera e a delicadeza
extingue os líricos às covas rasas largados
pequenas estrelas que mudam de cor
quando refletem as luzes dos corpos renascidos
miraculosos porque cotidianos –
ilumino teus olhos para não esquecer
por que não tenho centro



luiz carlos quirino

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