terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Ulisses




os sinais dos dias
tornam-se desesperadores
nas ruas – enlouquecem os homens
seus olhos esvaziam-se de si
quando se apercebem
já não sabem mais voltar
há tanta crueldade concentrada
num espaço tão estreito
como o de uma existência
as mães o sabem e dormem pouco
os objetos perdem-se igualmente
aos seres e aos projéteis – apenas
o grau de abandono os diferencia
no mundo da vertigem
é preciso acostumar os olhos de vereda
ao vazio do caminho
luminoso que corta o céu escuro
aos restos nas beiradas
ao odor erosivo do temor
às mãos que já não
sabem segurar o lápis
moldadas conforme o
movimento do gatilho
nado na enxurrada devastadora
daquilo que combinamos chamar
                                                     morada
Ulisses é o dono da rua
[um pouco de sorte e não será morto hoje]
nós seremos
e já não temos de onde regressar
ou regressamos interminavelmente
o que dá no mesmo
o que tanto faz


 LUIZ CARLOS QUIRINO

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