domingo, 3 de março de 2019

Sorriso-serrote




se voltássemos a ser criança
e o espanto da vida fosse-nos mais próximo
se fôssemos aquele animalzinho curioso
incapacitado para a dissimulação
se nossos dentes ainda estivessem brancos
e o sorriso vindo deles
não cortasse como um serrote
talvez as mães jamais morressem
e todas as casas seguissem conosco
em nossas pequenas mãos
tempo anterior à invenção da vingança
vento das coisas imaginadas
quando elas ainda não possuíam corpo
antes do vórtice – ou em sua volta oposta
24 horas da hélice – plena de luminescência
de quando o escuro era apenas um medo

LUIZ CARLOS QUIRINO



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