sábado, 8 de junho de 2019






Mesmo que lançássemos
nossos olhos às nascentes
os riachos continuariam secando
ante as mentiras dos líderes
um risco d’água como num sonho
onde corremos parados ou voamos
ou caímos das nuvens
a destruição continuaria
mesmo que não a víssemos
mesmo contra a inocência dos otimistas
há tanta sede quanto pressa
tanta arte quanto banalidade
mais-valia dos relógios
presos aos calcanhares dos trabalhadores
enquanto o galo corre entre os automóveis
o dia morre
para que a produtividade se intensifique
e já não nos recordamos
do aspecto de nossas mãos
nem de como aqui chegamos
já não podemos continuar
tampouco parar é uma opção
a ser considerada
aquele que possui os olhos vazados
aquele que se aproxima do deserto
e ricocheteia atingindo os inocentes
como em um dia banal
como o erro que possibilita a vida
e a terra sob as unhas
está úmida – elas, pretas
as unhas – todas nossas unhas


luiz carlos quirino

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