quarta-feira, 19 de junho de 2019







Nós – que comemos
copulamos e morremos
sem restarem vestígios ou
provas concretas de nossa existência
as pequenas e as grandes mentiras
operadas zelosamente como
as fugazes e pequenas alegrias
uma beatitude de pedra descarnada
fenda por onde caímos continuamente
entre os feriados prolongados
as férias e o sonho da casa própria
diferenciamo-nos pelos dentes
pela profundidade de nossas frustrações
ou pela competência em
administrar nossa desilusão
alguma dignidade revela-se na
capacidade de rir
a maioria – no entanto
é pequena e frágil
apesar da evolução
dos antibióticos e dos antidepressivos
a extinção ainda ronda
quem são esses que rastejam
de forma tão parecida com a nossa
falam um idioma familiar
mas nem por isso capazes
de se fazer compreender
e fogem aterrorizados
com nosso grito
de gozo ou desespero
e se somos nós esses
covardes e impotentes
no espelho total do mundo
que tudo deforma
quem é o homem que morre
a caminho do trabalho
que é desligado banalmente
maço de cigarro inconcluso
dentes inéditos
sem atrapalhar o tráfego
sem alterar a pressa
ou a velocidade infinita


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