domingo, 19 de janeiro de 2020


Éramos abandonados desde o início
[atentando contra palavras]
e toda essa algazarra
nada mais era do que o eco
                        de
nossa própria voz

E o calor era apenas o prenúncio
de uma interminável frente fria
e essa chuva nada mais
do que a febre
                        de
nossa própria voz

Enquanto caíamos
aquele cadáver também fazia-se nosso
com o peso do mundo nas coisas
                                 precipitadas  
e aquele guri também éramos nós
condenados a errar apenas
o cômodo erro
                        de
nossa própria voz

Adulterando a própria assinatura
e enlouquecendo todas as manhãs
com o rosto colado ao espelho
e um dia nos demos conta
através
                         de
nossa própria voz

Da extinção das goiabeiras
das mães e de algum
                    resíduo do real

Talvez os fantasmas existissem
desde o início – nada mais
                            do que
fantasmas por toda parte
arrastando suas correntes
assombrados de si mesmos
                        de
suas que eram iguais a
nossa própria voz
própria
voz

luiz carlos quirino

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