quinta-feira, 23 de janeiro de 2020


Não reparo e já anoitece
e crescem as sombras encobrindo a afeição
e quase não reconheço os objetos
que consomem meus dedos

aleijados
aleijada

toda essa tristeza talvez seja
apenas uma experiência estética nula
– um tipo de pobreza
que espuma no canto da boca
e elege imagens infames

Anoitece e os homens maquinam
__________________________uma extensa chacina
e a falsificação do que resta de gentil
é apenas uma sombra que nos envolve
a nós e aos objetos mortificados
entre o polegar e o indicador

não nos tornamos alegres
antes mais ignóbeis
como a espuma que pinga da boca
e nos faz esperar a manhã
como quem nasce sem reparar
e se agarra à beleza
mesmo sabendo de sua inutilidade

Agora escuto urros a noite toda
[de portas trancadas]
mas as frestas são impermeáveis à esperança
e nossas carnes triviais
ofertadas enquanto produzimos
as travas das portas sempre escancaradas

Não reparo e já é noite


luiz carlos quirino

Nenhum comentário:

Postar um comentário