sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020


À noite –
quando a cidade se aquieta
se nos mantivermos atentos
talvez consigamos escutar o rumor
das cores que estalam
como uma casa calma
ou sol nas plantas ao meio-dia
me alegra dormir ao som do azul
sus-
      sur-
            ra-
                 do
que se instaura
quando fecho os olhos
tanto que até me distraio da morte
e se derreto um sibilo alaranjado
consigo preencher os buracos
de meu impronunciável nome

À noite –
quando estou só –
mas às vezes gostaria
de  poder compartilhar
este pequeno milagre amoroso
inscrito em todas as coisas
menosprezadas
pelos homens sérios
porque o mundo é tímido
e se retrai diante de nossa brutalidade
o que fica à mostra é apenas um rastro
uma alucinação na ponta dos dedos
se silencio é escuta
e tudo que escrevo
é meu próprio corpo
às braçadas à nascente
um gole do mundo
antes do afogamento


luiz carlos quirino

Nenhum comentário:

Postar um comentário