O seco eixo do rio
alaga sobre mim uma lacuna
abrindo caminho entre a fábula
e o peso do concreto
lâmina de fogo que executa
a contagem regressiva
para minha morte onde
enfim encontro a casa vazia
tempo simultâneo em que
ainda nem nasci e sou
trazido à luz continuamente
Nas coisas assentadas
sob a claridade
é inútil indagar sentido
visto que nossa infâmia envolta
num casulo de megalomania
coincide com o mundo
em ferrugem e calúnia
Numa tristeza estival
grunhem palavras cotidianas
que transcrevo com linotipos
incandescentes em minha pele
a história dos vencidos
do limbo à carne viva
Seria preciso manter os fósforos secos
e raspar as páginas dos livros
rente à raiz esperar a floração
a volta do verde denso
idêntico à ferrugem dos rios
e ao tétano das facas
com que ferimos a terra
e depositamos a origem
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