sexta-feira, 12 de junho de 2020

o aberto abarca todo o fora
como um dentro que se abre
em violenta indiferenciação
e o rosto se transforma no mundo
que lê meu semblante intraduzível

e os rios ao sul do futuro
invadem as margens
onde crianças dormem
nas casas em chamas

agora
despertamos submersos
agora
os submarinos planam
acima
e abaixo e ninguém
consegue pronunciar
o palíndromo que é meu
nome

já fomos adultos incompletos
quando sonhávamos
compulsivamente
tanto
quanto
mentíamos

não
não é verdade ou
talvez seja
não sei

corre
corre
para que tuas mãos
voltem a ser ágeis
corre
como se não fosses glacial
sobre o gelo que se rompe
– aberto que engole o corpo

a obesidade dos crimes
sobre uma fina camada
cortante


 luiz carlos quirino 

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