quinta-feira, 4 de junho de 2020

numa casa abandonada
como se o corpo não fosse
raquítico
a criança ainda brinca
e através dela não víssemos
as paredes desmoronadas
[com usura homem algum
erguerá casa de boa pedra
já que há tantos
menos bárbaros que nós]

a grinalda da noite
enrosca-se nas ferragens
das portas bancárias retorcidas
e arrastam os edifícios abaixo
e os cabelos grisalhos de
fuligem e unhas roídas
no talo e roupas novas
para estreia

de pés descalços
pisoteando o verbo intransitivo
tento não perverter a simplicidade
que se revela somente na oscilação
mais transparente da revolta
nas pedras retiradas dos bolsos
enroladas em cartas de despedida
e avisos de chegada

luiz carlos quirino 


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