terça-feira, 19 de maio de 2020


dócil à voz do ser
                 – escoa todo
o pensamento nos
corredores anacrônicos
tão largos quanto as
artérias da metrópole

em cada esquina um acidente
bloqueia o fluxo das horas

exaure
minha
gramática
de aporias
e apostas no
amanhã

atrás de cada janela iluminada
um duplo do que poderia ter sido
preso ao anagrama da vida provável
como léxico das coisas do mundo

ontem
após
ontem

agora conto apenas com o trabalho
de minhas próprias mãos: do
ser no tempo – sein und zeit
atrofiado entre os dedos
e os dentes cerrados
machucam a voz
– logos do corpo
sentado à espera


 luiz carlos quirino 

Nenhum comentário:

Postar um comentário