quinta-feira, 28 de maio de 2020

me atenho à rotura do torso
e seu rastro gravado nas
pálpebras

erodidas

como se dobra um corpo que se apaga?

elegeria traçar uma rota no ar
e correr antes de seu ocaso
ou dizer uma sílaba de
respiração ofegante

contra o vido que separa o dia
embaciando suas possibilidades
talvez devesse jogar fora a faca
cega da língua e ser todo animal

afinal é preciso correr para além
ainda que não o suficiente para
que a carapaça de rinoceronte
republicano não nos esmague

é o corpo do trabalhador dobrado
que interrompe a engrenagem
da máquina – moída sua
carne em looping


luiz carlos quirino

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