palavras proferidas
sob sol intenso
são sempre perseguidas
por uma sombra gigantesca –
tamanho que não consegue ter a voz
do animal que sonha acordado
e pensa viver entre os bípedes
e se projeta contra a sorte
rompendo o arame farpado
que o cerca
fazendo do urro
a brutalidade da luta
na densidão sufocante
do que não pode ser partilhado
nada importa a não ser
a valia do afeto
dos corpos que se encontram
e já são outros abaixo dos ossos
distantes da orla que se distancia
e os entrega uns aos outros
ave maria dos afogados
na última gota de vida perdida
nas frestas da terra rachada
ave maria sem asas que
bica o grão oneroso e estéril
dos mentirosos – já que
todas as letras têm lastro
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