À noite os sonâmbulos ganham as ruas, sejam eles reais ou imaginários. O eco de passos agora sem dono reverbera nos raios da lua, no jorro sangrento que ilumina os caminhos por onde passei antes de ser apagado. À noite, somente à noite, os sonâmbulos ganham as ruas porque os seres de existência precária tornam-se ainda mais anêmicos durante o dia. Aqui onde o corvo perdeu sua cor, e suas penas são pequenos resmungos, palavrórios de uma conjuração contra tudo o que possui peso.
Das histórias contadas por minha mãe um pequeno mundo parece tentar extrair forças e se equilibrar nas quatro patas. [Ela sempre repetia que é preciso ter fé naquilo que insiste e que os incrédulos projetam sua sombra sobre os ramos quando ainda são frágeis.] O vento varre a poeira de cima de um pequeno livro cujo título já não pode ser lido, porque seus caracteres foram impressos com tinta vocálica.
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