sábado, 11 de fevereiro de 2023

 

Um rapaz de uns vinte e poucos anos circula pelos corredores do supermercado num horário de pouco movimento. Empurra um carrinho vazio, tira uma mercadoria ou outra da prateleira e analisa a composição, confere o preço, porém acaba não ficando com nada. O segurança já se deu conta da movimentação estranha e o acompanha de longe, tentando não se fazer notar. O jovem, após alguns minutos do que perece mais um passeio, ajeita um pacote de papel higiênico e um frasco de xampu no centro do carrinho e continua. Ele acredita não estar sendo observado, no entanto o segurança conseguiu perceber a movimentação rápida da camiseta encobrindo alguma coisa.   

Adamastor leva uma vida absolutamente banal: trabalha de carteira assinada, recebe um salário insuficiente para cobrir qualquer necessidade que extrapole o mínimo necessário à sobrevivência. Está casado há quinze anos com uma garota (agora jovem senhora) que conheceu no curso de maquiagem funerária. Ofício que nunca chegou a exercer, tampouco Marta, sua esposa. Já no segundo ano de relacionamento vieram os gêmeos, desde então Adamastor se vira como pode. Conjuntura que o levou a aceitar o emprego de guardinha de supermercado. Guardinha, é assim mesmo que ele se refere, com certo desprezo, à atividade a que fora obrigado a se submeter.

Faz mais ou menos três horas que os jornais noticiaram um tipo estranho de neblina, meio avermelhada e densa quase como areia. Ninguém ainda conseguiu descobrir de onde vem nem sua composição. O fato é que a cidade aos poucos começa a ter suas formas encobertas. Algumas escolas já suspenderam as aulas. O preço de alguns alimentos, de alguns itens de higiene, de alguns tipos de medicamentos e das corridas de Uber eleva-se à medida que o mistério aumenta e que as teorias conspiratórias tomam de assalto as redes sociais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário