quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

 

Três fantasmas vagam por entre os escombros, três feixes de luz como uma espécie de eco que reverbera nas coisas que possuem volume ou que pelo menos parecem possuir. O sol lá no alto transforma tudo em miragem e engana a visão. Por isso a diferença entre o existente e o inexistente é mínima, reside no deixar-se tocar.

Encobertos por essa fantasmagoria, três fantasmas cavam na areia resplandecente ao meio dia enquanto na única construção habitada um homem inventado sonha com o destino da humanidade remanescente. Ele não suspeita das miragens nem dos fantasmas que acompanham do lado de fora seu sono.

 

FANTASMA 1

Dia após dia tentamos desenterrar cidades inteiras abandonadas pelos fazedores de mundos. E até conseguimos localizar suas camas, porém estão sempre vazias.  

 

FANTASMA 2

Nunca perdemos a esperança de que tenha restado alguma coisa intacta após as tempestades sucessivas.

 

FANTASMA 3

Tampouco descobrimos de que imaginação saiu o homem que sonha o destino de todos os outros.  

 

FANTASMA 2

Talvez devêssemos desistir. Porque cavar na matéria onírica faz com que despareçamos um pouco mais a cada vez. Desde que começamos, o dia tem ficado mais longo. Quase já não escurece.

 

Os três fantasmas largam suas pás feitas de noite e contemplam o buraco por eles aberto voltar a se fechar. Sua luz é insuportável.

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