Céu estrelado. Um leopardo espreita a criança que brinca no
pátio sob a luz anêmica de uma lanterna. Nunca saberíamos se é dia ou noite se
não olhássemos o relógio e constatássemos se tratar das duas da tarde. O animal
faz movimentos silenciosos e lânguidos. Ninguém percebe sua presença. A criança
está sozinha, nos fundos de sua casa, brincando com um baldinho e uma pazinha
de plástico colorido. Um vento morno nos dá pistas de que talvez estejamos no
verão. Ao mesmo tempo, quem sabe também tenha levado até muito longe o cheiro
de carne jovem. Até o felino. Faz quinze minutos mais ou menos que ele pulou a
cerca de madeira e observa por detrás das plantas murchas do jardim. A criança
parece ter uns cinco anos e, como seria de se esperar nesta idade, está concentrada
com muita seriedade em sua brincadeira. O animal se aproxima do outro pequenos animal
– o filhote dos humanos – e o cheira. A criança acha engraçado e acaricia seu
pelo macio. O leopardo a lambe com sua espessa e áspera língua. A criança sente
cócegas e dá gargalhadas. As risadas chamam a atenção da mãe. Ela vem até a
porta dos fundos para ver o motivo da graça. Quando se depara com a cena fica
paralisada. Por sorte seu marido estava por perto e consegue chamá-lo através
de sinais. O homem se aproxima da porta bruscamente. O leopardo, que continuava
lambendo o rosto da criança, agora abocanha sua cabeça que emiti um som
parecido com o de quando mordemos uma maçã. O pai, atordoado, pega uma pá e vai
em direção ao animal que pula a cerca, carregando a criança em direção ao
bosque de árvores secas a alguns metros da casa. O céu continua estrelado
apesar da fome dos animais.
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